12 agosto 2007

ESSES BÊBADOS E SUAS HISTÓRIAS

Nenhum lugar do mundo é tão bom para se contar histórias quanto uma boa bodega. As histórias podem ser verdadeiras, inventadas ou um pouco de cada, dependendo do contador e da platéia. Foi em uma bodega que ouvi, da boca de um sujeito que parecia absolutamente confiável, a história de Lisarb.

Lisarb é uma estranha terra onde tudo é ao contrário.

Lá, a honestidade é um defeito e a malandragem é uma virtude. Quem rouba pouco passa muito tempo na cadeia e quem rouba muito sequer chega a ser preso.

A imensa maioria da população lisarbeira é constituída de pobres, mas foram necessários quinhentos anos para que um pobre chegasse ao poder - e primeiro ele teve que deixar de ser pobre. Por falar nisso, lá em Lisarb as universidades públicas são para quem tem dinheiro e quem não tem acaba estudando nas particulares. As escolas de Lisarb não ensinam e os alunos de Lisarb não aprendem, apesar de os pedagogos do país dizerem a todo mundo que a educação lisarbeira é moderna e libertadora.

Lisarb é um país onde os eleitores votam em corruptos mesmo sabendo que eles são corruptos. E os corruptos presidem CPI's em que fingem que julgam outros corruptos, para simular que trabalham nos poucos dias em que não estão fazendo de conta que visitam as bases. É também um país onde o presidente da Câmara dos Deputados declara que o salário dos congressistas "não é tão alto assim" e não leva sequer uma bofetada do entrevistador.

A estranheza de Lisarb é tal, que lá o povo paga impostos de Welfare State e recebe serviços de República de Bananas. As pequenas empresas lisarbeiras têm que fechar as portas porque não conseguem dar conta da carga tributária, enquanto o governo gasta bilhões socorrendo os bancos que não conseguem sobreviver mesmo extorquindo os clientes.

Como em Lisarb tudo é ao contrário, lá os jogadores de futebol, os cantores de pagode e as peruas siliconadas estão no topo da cadeia alimentar social, enquanto alguns professores universitários ganham menos que os motoristas de ônibus. Para se ter uma idéia da esquisitice do lugar, as maiores celebridades do país são os ex-participantes do GRL (Gib Rehtorb Lisarb), um programa de TV em que vários vagabundos passam semanas inteiras confinados em uma casa exercitando a arte da intriga e do ócio improdutivo, para deleite de milhões de desocupados e pederastas.

É desnecessário dizer que nenhum dos ocupantes da mesa acreditou nessa história. Uns balançaram a cabeça, para fazer de conta que gostaram, outros perguntaram se alguém sabia a última do português, pra mudar de assunto. Até o Valdir tinha um sorriso sarcástico nos lábios enquanto recolhia as garrafas vazias e passava um pano úmido na mesa. Mas a situação acabou ficando meio chata, pois o cara insistiu que era tudo verdade, quando todo mundo sabia que não pode existir um país assim. O jeito foi bater nas costas dele e dizer "Tá certo, tá certo..." Uma das principais coisas que se aprende numa bodega é que não dá pra contrariar um bêbado.

Um comentário:

Letícia Losekann Coelho disse...

Adoro o que tu escreves... sempre inteligente. A única coisa que nos falta é inverter o nome do País, é inacreditável....