31 outubro 2007

GRAÇAS À COPA...

E a Copa do Mundo, para surpresa geral, será no Brasil, que venceu a concorrência contra... bem, o Brasil era candidato único, a não ser que consideremos como rival a desconfiança do mundo quanto à nossa capacidade de organizar com êxito um evento de tal magnitude.

Estavam todos lá, os melhores e mais representativos espécimes da Terra brasilis: o presidente-operário (que não trabalha há mais de trinta anos), o atacante que fez mil gols (incluindo os marcados nas peladas de futebol de praia), o imortal que entrou pra Academia de Letras sem saber escrever, além de ministros, governadores e pederastas de menor brilho. Todos comemoraram a gloriosa vitória na eleição em que éramos o único candidato. Todos, inclusive o Pelé, que não foi convidado para acompanhar a delegação brasileira (para consternação de Michel Platini) mas estava pertinho de Zurique, representando um fabricante de gramados artificiais (!) em outro evento.

A Copa do Mundo, a julgar pelo que se diz na mídia, salvará o Brasil. Graças à Copa teremos metrô, graças à Copa reformaremos os estádios (não temos nenhum - repito: NENHUM em condições de sediar jogos "copais"), graças à Copa nossos hotéis treinarão os atendentes para falar com os hóspedes em inglês, graças à Copa nossas estradas serão consertadas, graças à Copa os vôos sairão no horário, graças à Copa o lixo que se acumula nas calçadas será recolhido, graças à Copa tudo vai ser lindo e maravilhoso.

Temos apenas sete anos para transformar essa república de bananas num paraíso. O tempo e a grana serão suficientes - pelo menos, é o que dizem Lula e Ricardo Teixeira. Perguntar não ofende: se é possível realizar no nosso altaneiro torrão tantas melhorias em tão curto espaço de tempo, por que o presidente Lula, que está com a faixa desde 2003, esperou até agora para decidir fazê-las? É preciso uma Copa do Mundo para termos infra-estrutura de qualidade? Quem disse?

Seja o que for, Lula finalmente encontrou aquilo que tanto procurava: um mirabolante projeto de união nacional capaz de guindá-lo à posição de Grande Timoneiro.

E os corruptos receberam dos deuses (ou dos demônios) um presentaço: sete anos de sossego para roubar em paz enquanto a opinião pública estiver entretida com a preparação para o evento. Sem contar as grandes oportunidades de negócios escusos propiciadas pela infinidade de licitações e contratos que vêm aí.